sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Na ponta da língua
(Reportagem publicada na revista Kalunga, junho de 97, nº. 78. )

Diferenças e influências à parte, a língua portuguesa continua sendo um fator de união no País. Anglicismos, galicismos, o "economês", o "informatiquês" e o linguajar dos guetos só servem para enriquecê-la ainda mais...

A língua falada no Brasil é, e deverá continuar sendo, o português, conforme dizem os lingüistas. Embora a afirmação pareça óbvia, responde a uma desconfiança, cada dia mais difundida entre as pessoas, de que o uso crescente do inglês, a emergência das falas cifradas dos "guetos" (como nos morros cariocas e grupos afros da Bahia), ou mesmo a linguagem seletiva adotada pela mídia poderiam, de alguma forma, desfigurar nosso idioma.

Para que uma transformação dessa natureza ocorresse, seria necessário bem mais do que a introdução de novas palavras e vocabulários, afirma o lingüista Luís Antônio Marcushi, da Universidade Federal de Pernambuco: "Além das modificações no campo do vocabulário, uma mudança tão profunda teria que incorporar novos fonemas e novas formas sintáticas, o que não acontece." Segundo o professor, o sistema lingüístico só admite para a língua o que pode ser articulado de acordo com a estrutura fonológica que lhe é própria, acrescenta.(...)

Termos regionais

Mato Grosso do Sul

Palavras indígenas e vocábulos em guarani (língua oficial do Paraguai) são empregadas amplamente nas regiões de fronteira. Alguns exemplos:

mitacunhã porã – moça bonita

galheta – bolacha

canha – pinga (em Bela Vista)

Em Campo Grande e outros municípios do Mato Grosso do Sul, os regionalismos mais freqüentes foram introduzidos por colonos gaúchos:

trompar – trombar

bolita – bola de gude

mate – chimarrão quente

tereré – chimarrão gelado

pandorga – pipa

vote! – interjeição de repulsa ou espanto (cruzes!)

guaiaca (tupi) – cinto de couro, dotado de bolsas externas, usado pelo boiadeiro

guaipesca (tupi) – cachorro vira-latas

Norte e Nordeste

O uso das vogais abertas, no português falado na Bahia, revela traços conservadores da época do Descobrimento do Brasil, dizem os lingüistas.

baba (BA) – futebol amador, bate-bola, pelada

xexéu (BA) – homem afeminado

macaxeira – mandioca

jerimum – abóbora

laranja-cravo – mexerica, tangerina

baitolo – homossexual masculino

Rio Grande do Sul

gaudério – sinônimo de gaúcho; termo mais amplamente usado no interior

"te abanquetas" – expressão usada para convidar a pessoa a sentar-se

bergamota – mexerica, tangerina

redomão – potro que ainda não foi domado

atucanado – cheio de tarefas, atarefado

amargo – chimarrão

rapariga – termo ainda empregado pelos velhos para designar moça

piá – bebê, ou jovens até 14 anos

chinoca – na zona rural, moça promíscua

guampudo – indivíduo "corno"

mas que tal? – forma de cumprimento em cidades fronteiriças como Uruguaiana, por exemplo

bagaceiro – de mau gosto, "brega"

Pernambuco

fiteiro – qualquer banca de rua. O termo relaciona-se, originalmente, ao vendedor de fitas que circulava pela cidade

então, pronto... – expressão de acordo ou confirmação

é o bicho – expressão de emprego recente, refere-se a algo muito bom ou interessante

fruta – homem afeminado, em Pernambuco

Sergipe

mercadinho – supermercado, hipermercado. "Mercado" refere-se apenas ao Mercado Municipal e, embora os grandes estabelecimentos sejam hoje relativamente bem maiores, eles continuam com o nome no diminutivo.

banca – aulas de reforço particulares ("dá-se banca", "colocar os filhos na banca", "professora de banca")

Maria clara – é a cachaça ("dormir com a Maria Clara", uma alternativa para os solteiros)

cabrunco – vocabulário pesado e grosseiro. O mesmo que o substantivo "peste", nas acepções seguintes: (1) coisa de causar espanto; (2) pessoa ruim.

marchante – galicismo encontrado no Aurélio como "comerciante de carnes, açougueiro" para o Norte e o Nordeste. Mais recentemente, o significado foi ampliado para pequeno comerciante, de qualquer gênero. A imprensa local usa correntemente.

ximango, xibunga, ximbunga – homem afeminado, o mesmo que "bicha" no Rio. Ximbunga pode ser também qualquer coisa de péssima qualidade.

peba (som de é) – Em SE e AL, adjetivo depreciativo, que se aplica a qualquer coisa de péssima qualidade inferior. Entretanto, a popular Praia do Peba é muito bonita... O nome neste caso veio do rio que ali desemboca.

tulha – no interior de Sergipe, monte (de terra, lixo, entulho etc.)

dar uma camada de pau – dar uma grande surra

pegar ou tomar galha – ser traído

é quando o cancão pia... – expressão consagrada por um repórter de rádio sergipano. O cancão é uma espécie de gralha do Sertão. Eqüivale a: diante de fatos ou evidências, a matéria está se complicando, se agravando ou ganhando envergadura.

Palavras de origem tupi

socar – sok

carpir – kopira, copyr (cortar o mato)

cutucar – kutug (espetar)

mingau – mingaú (aquilo que empapa)

coroca (ex.: "velha coroca") – kuruk (resmungar)

tiquinho – tykyra (gota)

peteca – petek (bater com a mão aberta)

chorar as pitangas – pitãg (vermelho); eqüivale a: "chorar lágrimas de sangue".

nhenhenhém – nheeng (falar sem parar)

estar jururu – aruru (tristonho)

Colaboraram: José Roberto G. Rocha (SE), Josué Lima (MS), Rosa Symanski (RS), Éride Moura (N e NE) e José Wolf (PE).

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