Diferenças e influências à parte, a língua portuguesa continua sendo um fator de união no País. Anglicismos, galicismos, o "economês", o "informatiquês" e o linguajar dos guetos só servem para enriquecê-la ainda mais...
A língua falada no Brasil é, e deverá continuar sendo, o português, conforme dizem os lingüistas. Embora a afirmação pareça óbvia, responde a uma desconfiança, cada dia mais difundida entre as pessoas, de que o uso crescente do inglês, a emergência das falas cifradas dos "guetos" (como nos morros cariocas e grupos afros da Bahia), ou mesmo a linguagem seletiva adotada pela mídia poderiam, de alguma forma, desfigurar nosso idioma.
Para que uma transformação dessa natureza ocorresse, seria necessário bem mais do que a introdução de novas palavras e vocabulários, afirma o lingüista Luís Antônio Marcushi, da Universidade Federal de Pernambuco: "Além das modificações no campo do vocabulário, uma mudança tão profunda teria que incorporar novos fonemas e novas formas sintáticas, o que não acontece." Segundo o professor, o sistema lingüístico só admite para a língua o que pode ser articulado de acordo com a estrutura fonológica que lhe é própria, acrescenta.(...)
Termos regionais
Mato Grosso do Sul
Palavras indígenas e vocábulos em guarani (língua oficial do Paraguai) são empregadas amplamente nas regiões de fronteira. Alguns exemplos:
mitacunhã porã – moça bonita
galheta – bolacha
canha – pinga (em Bela Vista)
Em Campo Grande e outros municípios do Mato Grosso do Sul, os regionalismos mais freqüentes foram introduzidos por colonos gaúchos:
trompar – trombar
bolita – bola de gude
mate – chimarrão quente
tereré – chimarrão gelado
pandorga – pipa
vote! – interjeição de repulsa ou espanto (cruzes!)
guaiaca (tupi) – cinto de couro, dotado de bolsas externas, usado pelo boiadeiro
guaipesca (tupi) – cachorro vira-latas
Norte e Nordeste
O uso das vogais abertas, no português falado na Bahia, revela traços conservadores da época do Descobrimento do Brasil, dizem os lingüistas.
baba (BA) – futebol amador, bate-bola, pelada
xexéu (BA) – homem afeminado
macaxeira – mandioca
jerimum – abóbora
laranja-cravo – mexerica, tangerina
baitolo – homossexual masculino
Rio Grande do Sul
gaudério – sinônimo de gaúcho; termo mais amplamente usado no interior
"te abanquetas" – expressão usada para convidar a pessoa a sentar-se
bergamota – mexerica, tangerina
redomão – potro que ainda não foi domado
atucanado – cheio de tarefas, atarefado
amargo – chimarrão
rapariga – termo ainda empregado pelos velhos para designar moça
piá – bebê, ou jovens até 14 anos
chinoca – na zona rural, moça promíscua
guampudo – indivíduo "corno"
mas que tal? – forma de cumprimento em cidades fronteiriças como Uruguaiana, por exemplo
bagaceiro – de mau gosto, "brega"
Pernambuco
fiteiro – qualquer banca de rua. O termo relaciona-se, originalmente, ao vendedor de fitas que circulava pela cidade
então, pronto... – expressão de acordo ou confirmação
é o bicho – expressão de emprego recente, refere-se a algo muito bom ou interessante
fruta – homem afeminado, em Pernambuco
Sergipe
mercadinho – supermercado, hipermercado. "Mercado" refere-se apenas ao Mercado Municipal e, embora os grandes estabelecimentos sejam hoje relativamente bem maiores, eles continuam com o nome no diminutivo.
banca – aulas de reforço particulares ("dá-se banca", "colocar os filhos na banca", "professora de banca")
Maria clara – é a cachaça ("dormir com a Maria Clara", uma alternativa para os solteiros)
cabrunco – vocabulário pesado e grosseiro. O mesmo que o substantivo "peste", nas acepções seguintes: (1) coisa de causar espanto; (2) pessoa ruim.
marchante – galicismo encontrado no Aurélio como "comerciante de carnes, açougueiro" para o Norte e o Nordeste. Mais recentemente, o significado foi ampliado para pequeno comerciante, de qualquer gênero. A imprensa local usa correntemente.
ximango, xibunga, ximbunga – homem afeminado, o mesmo que "bicha" no Rio. Ximbunga pode ser também qualquer coisa de péssima qualidade.
peba (som de é) – Em SE e AL, adjetivo depreciativo, que se aplica a qualquer coisa de péssima qualidade inferior. Entretanto, a popular Praia do Peba é muito bonita... O nome neste caso veio do rio que ali desemboca.
tulha – no interior de Sergipe, monte (de terra, lixo, entulho etc.)
dar uma camada de pau – dar uma grande surra
pegar ou tomar galha – ser traído
é quando o cancão pia... – expressão consagrada por um repórter de rádio sergipano. O cancão é uma espécie de gralha do Sertão. Eqüivale a: diante de fatos ou evidências, a matéria está se complicando, se agravando ou ganhando envergadura.
Palavras de origem tupi
socar – sok
carpir – kopira, copyr (cortar o mato)
cutucar – kutug (espetar)
mingau – mingaú (aquilo que empapa)
coroca (ex.: "velha coroca") – kuruk (resmungar)
tiquinho – tykyra (gota)
peteca – petek (bater com a mão aberta)
chorar as pitangas – pitãg (vermelho); eqüivale a: "chorar lágrimas de sangue".
nhenhenhém – nheeng (falar sem parar)
estar jururu – aruru (tristonho)
Colaboraram: José Roberto G. Rocha (SE), Josué Lima (MS), Rosa Symanski (RS), Éride Moura (N e NE) e José Wolf (PE).
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